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Vargul e Hrolf
26/09/2025

Os relatos a seguir constituem um compêndio de observações referentes à história de dois irmãos.”

Ano: Aproximadamente ano 1005

No norte de Ytarria, verificou-se uma alteração significativa nas condições ambientais: as variações térmicas tornaram-se mais acentuadas, acompanhadas por ventos intensos e um clima notoriamente severo. Além disso, registraram-se episódios de cataclismos de pequena escala, manifestando-se de forma aleatória e sem qualquer padrão previsível.

A Serendipidade designou magos e grupos de aventureiros para averiguar a situação, e os resultados mostraram-se alarmantes. Entre as populações nortenhas, de tradição pagã, circulava o relato de uma antiga profecia, supostamente ocorrida há cerca de um milênio, cuja veracidade permanece incerta.

Sabe-se, entretanto, que o jarl Hrolf marchou reunindo forças, unificando parte das terras do norte e autoproclamando-se rei. Seu irmão, o jarl Vargul — primogênito de seu pai — recusou-se a participar da campanha expansionista. Defendia, segundo registros, que a prioridade deveria ser consolidar o domínio terrestre do norte antes de aventurar-se pelo mar. Para ele, o território era vasto demais para ser adequadamente defendido. Heolford, ao leste, representava um ponto vulnerável, uma verdadeira porta de entrada para Megalos. Além disso, embora os anões tendessem a manter alianças com o norte contra megalanos, havia o risco de que abrissem passagem pelas montanhas caso julgassem que Heolford se comprometesse em apoiar e combater na região — uma divisão perigosa das forças militares.

Essa divergência estratégica acabou por colocar Vargul em posição política e militar desfavorável. Entre os senhores do norte, ele passou a ser visto como covarde, enquanto Hrolf era considerado a encarnação do pai: um homem forte e violento, cuja vontade se estendia por toda a região. Sua forma de ataque era marcada pela brutalidade sistemática: homens eram sequestrados e torturados para fornecer informações sobre cidades, sendo-lhes prometida salvação para suas famílias, promessa que jamais se cumpria. Homens de estatura superior a uma roda de carroção eram executados, mulheres consideradas belas eram entregues aos senhores, e os restantes eram distribuídos entre os soldados; apenas idosos e crianças eram poupados. Ele se certificava que houvessem fugitivos o suficiente para levar o medo à diante.

Quando conquistava uma cidade, Hrolf promovia uma carnificina ritualística, combinando violência e cerimônia religiosa: os homens bebiam o sangue das vítimas, acreditando receber poderes profanos dos deuses.

Vargul, que não apoiava tais ações, teve suas terras tomadas. Por tradição e para não ofender outros senhores, Hrolf não pôde matá-lo. No entanto, em um ato cruel, passou a levar Vargul à frente de suas batalhas algemado e cegou-o, impedindo-o de testemunhar a vitória de seu povo. Seus olhos foram marcados com duas runas de significado incerto atualmente, interpretadas como: “aquele nada vê” e “falso profeta”.

Acredita-se que, posteriormente, Vargul tenha fugido, sido libertado ou falecido, mas os registros históricos deixam de mencionar seu nome. Canções antigas, preservadas por escaldos, relatam suas últimas palavras:

“O Gelo vai sangrar e o Céu vai se abrir.
O Sangue Antigo vai abrir o portão.
Três luas de sangue antes do portão; e já tivemos duas…
Vocês chamam de inverno.
Eu chamo de ventre.
O ventre do mundo está parindo o fim.
Hrolf morreu.
Agora ele é casca,
vestida pelo Abismo.”

A situação agravou-se quando Sahud impediu qualquer tentativa de empreitada marítima a oeste. A partir desse ponto, os registros históricos tornam-se escassos e é apenas esse o conhecimento documental disponível.

Sabe-se que Hrolf, morreu em uma batalha marítima contra Sahud, a derrota se deu exatamente como previa Vargul.